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Tipo: Tese
Título: Juventudes, apartheids e semânticas do medo: sentidos e vivências emocionais urbanas a partir da psicologia histórico-cultural
Título em inglês: Youth, apartheids and the semantics of fear: senses and urban emotional experiences from the historical-cultural psychology
Autor(es): Cabral, Daniel Welton Arruda
Orientador: Bomfim, Zulmira Áurea Cruz
Palavras-chave: Violência urbana;Violência Aspectos sociais;Medo - Aspectos sociais;Periferias;Igualdade;Afeto (Psicologia)
Data do documento: 2021
Citação: CABRAL, Daniel Welton Arruda. Juventudes, apartheids e semânticas do medo: sentidos e vivências emocionais urbanas a partir da psicologia histórico-cultural. Orientadora: Zulmira Áurea Cruz Bomfim. 2021. 464 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Programa de Pós-graduação em Psicologia, Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2021.
Resumo: O Brasil é um dos países com maiores índices de homicídio do mundo, e a concentração das ocorrências vem sendo ampliada nas metrópoles nordestinas, em especial nas duas últimas décadas, vitimando populações cada vez mais jovens e produzindo medo. Em Fortaleza, apenas no primeiro semestre de 2020, foram ceifadas 409 vidas adolescentes. Esta tese investigou as implicações psicossociais dos medos urbanos nos adolescentes-jovens (15 a 19 anos) da cidade de Fortaleza, a partir de dois recortes: território (centro e periferia) e gênero. Utilizamos uma abordagem multimétodo com a aplicação de entrevistas semiestruturadas, um questionário para aferir os medos urbanos e o Instrumento Gerador dos Mapas Afetivos (IGMA). Diversos estudos vêm atestando o crescimento dos medos urbanos em diferentes locais do mundo, mesmo onde os índices de violência vêm decrescendo, indicando que o risco real e o medo não estão necessariamente correlacionados. Apesar disso, grande parte dos estudos brasileiros exploram os medos urbanos como consequência exclusiva da violência. Constatamos que, além dos riscos reais, aspectos culturais têm sido responsáveis pelo aumento do medo, que leva à ampliação da segregação e gera um apartheid na cidade de Fortaleza, fazendo com que os adolescentes dos territórios centrais e periféricos praticamente não se encontrem fora de relações subalternizadas ou de temor. As adolescentes do gênero feminino de ambos os territórios apresentaram um entrelaçamento de temores de violência sexual, verbal e física. Os adolescentes do gênero masculino do centro manifestaram apenas medo de ser assaltado e de ser assassinado, temores presentes em todos os grupos participantes. Os adolescentes da periferia acumularam outros medos, tais como o de ser “confundido” com um “envolvido” com facções de drogas; de que fizessem mal a alguém de sua família; de ser atingido por bala perdida; da polícia; e de “desandar”, os dois últimos presentes apenas no gênero masculino. Especialmente neste território, o temor tem impelido alguns adolescentes a se enclausurar, contribuindo para gerar sofrimentos como crises de choro constantes; depressão; tristeza profunda; automutilação; tentativas de suicídios; desorganização mental; ansiedade; crises de raiva intensas. Apesar de os adolescentes da periferia terem sofrido mais experiências de violência, os adolescentes do centro apresentaram mais temores ansiosos, sem objeto definido. Tal ansiedade mostrou-se relacionada com ideias inadequadas e estigmatizadas sobre os moradores da periferia, reproduzidas ideologicamente e disseminadas por uma cultura de medo, produtora de uma série de paixões tristes, que estão na gênese das práticas de apartheid. A força de difusão do medo mostrou-se decorrente de sua eficácia em exprimir ansiedades culturais profundas. Os altos índices de violência da cidade têm ocasionado, nas populações menosvulneráveis, a equivocada ideia de que todos os citadinos correm os mesmos riscos, o que tem maximizado o índice de ansiedade dessa população, ampliando movimentos de autodefesa, produtores de segregação. Isso tem gerado um ciclo em que violência, segregação e medo se retroalimentam, com efeitos danosos especialmente na periferia, como a desintegração de laços sociais e o surgimento de relações de inimizade, produzindo apartheids intraperiféricos, nos quais adolescentes têm sido assassinados apenas por cruzar os limites de seu bairro.
Abstract: Brazil is one of the countries with the highest homicide rates in the world, and the concentration of occurrences has been amplified in the northeastern cities, especially in the last two decades, victimizing still more younger populations and producing fear. In Fortaleza, only in the first semester of 2020, 409 teenage lives were taken. This thesis investigated the psychosocial implications of urban fears in teenagers (15 to 19 years old) in the city of Fortaleza, based on 2 cutouts: territory (center and periphery) and gender. We used a multi-method approach with the application of semi-structured interviews, a questionnaire to measure urban fears and the Generating Instrument of Affective Maps (GIAM). Several studies have been attesting to the growth of urban fears in different parts of the world, even where violence rates have been decreasing, indicating that real risk and fear are not necessarily correlated. Nevertheless, a large part of Brazilian studies explore urban fears as the exclusive consequence of violence. We find that, besides the real risks, cultural aspects have been responsible for the increase in fear, which leads to the expansion of segregation and generates apartheid in the city of Fortaleza, causing adolescents in the central and peripheral territories to find themselves practically not outside subordinate or fear relationships. Female adolescents from both territories presented an intertwining of fears of sexual, verbal, and physical violence. The male adolescents in the center manifested only fear of being assaulted and murdered, fears present in all the participating groups. Adolescents in the periphery accumulated other fears, such as being "confused" with drug factions; having someone in their family hurt; being hit by a stray bullet; by the police; and "disembarking," the last two present only in the male gender. Especially in this territory, fear has impelled some adolescents to incarcerate themselves, contributing to generating suffering such as constant crying crises; depression; deep sadness; self-mutilation; suicide attempts; mental disorganization; anxiety; intense anger crises. Although the adolescents in the periphery suffered more experiences of violence, the adolescents in the center had more anxious fears, with no definite object. Such anxiety was related to inadequate and stigmatized ideas about the residents of the periphery, ideologically reproduced and spread by a culture of fear, which produces a series of sad passions that are at the genesis of apartheid practices. The force of fear's diffusion has been shown to result from its effectiveness in expressing deep cultural anxieties. The high rates of violence in the city have led to the feeling that all city dwellers are at the same risk, which has maximized the anxiety rate of this population, amplifying movements of self-defense, producers of segregation. This has generated a cycle in which violence, segregation and fear feedback, with harmful effects, especially in the periphery, suchas disintegration of social ties and emergence of enmity relationships, producing intraperipheral apartheids, in which adolescents have been murdered just for crossing the limits of their neighborhood.
URI: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/59418
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