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Tipo: Tese
Título: Vidas de Mães na Favela: reinvenções da maternidade nas experiências de mulheres na periferia de Fortaleza
Autor(es): Peixoto, Socorro Letícia Fernandes
Orientador: Paiva, Antônio Cristian Saraiva
Palavras-chave: Maternidade;Gênero;Famílias Pobres
Data do documento: 2019
Citação: PEIXOTO, Socorro Letícia Fernandes. Vidas de Mães na Favela: reinvenções da maternidade nas experiências de mulheres na periferia de Fortaleza. 2019. 313f. -Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de Pós-graduação em Sociologia, Fortaleza, 2019.
Resumo: Esta tese objetivou analisar os significados das experiências de maternidade das mulheres pobres da periferia de Fortaleza. Abordou-se a maternidade mediante três derivações: a noção de interseccionalidades, em virtude dos marcadores de classe, gênero e raça das interlocutoras; os discursos biomédicos e estatais, permeados por regulações biopolíticas que reverberam sobre os corpos femininos; e as agências enunciadas e vividas pelas mulheres mães em contextos de pobreza. Essa pesquisa fundamentou-se no campo socioantropológico das epistemologias feministas contemporâneas, sobretudo, do feminismo decolonial. A metodologia pautou-se em pesquisa qualitativa, tendo como referência as abordagens biográficas. Nesse estudo, foram interpretadas as narrativas de vida das trajetórias das mulheres entrevistadas, em campos empíricos diversos, sendo estes: a comunidade do Morro da Vitória, um hospital público em Fortaleza e as casas de algumas interlocutoras. Realizaram-se, ainda, incursões etnográficas em campo e observação direta e participante. As informações obtidas tiveram um amplo referencial bibliográfico e documental como ferramenta de análise. A maternidade, além dos aspectos biológicos, aparece como uma experiência plural e permeada de elementos materiais, simbólicos e normativos, sendo contemplada por uma série de deslocamentos. As gestações, para as interlocutoras da pesquisa, com uma exceção, não foram planejadas, mesmo tendo vida sexualmente ativa. A maioria dos sujeitos dessa tese são mulheres que, de algum modo, transgrediram as normas de gênero e ao ideal de maternidade ocidental moderno. Todavia, as mudanças na condição feminina não foram suficientes para desconstruir, no imaginário dessas mulheres, algumas moralidades de gênero, uma vez que as próprias mulheres se autoavaliam quanto ao cumprimento das obrigações de criação dos filhos. Ser ―mãe de família‖ marca suas trajetórias, o que traz para si um status social nas classes populares. Quanto aos discursos biomédicos e estatais discorridos no hospital, percebeu-se que ainda reverberam de forma hegemônica práticas disciplinares de controle do corpo feminino e do parto medicalizado. As gestações apresentadas nesse trabalho foram de alto risco. Entretanto, observaram-se avanços em relação às práticas multiprofissionais mais humanizadas de atenção à saúde materno-infantil. O parto, para as entrevistadas, é um evento importante em suas vidas, mas sem muitos planejamentos. Concluiu-se que a maternidade nas camadas pobres é plena de contradições. Por um lado, as moralidades típicas da vida dos pobres dadas à obrigação de cuidar dos filhos, são âncoras de classificações hierárquicas das mães na favela, o que inclui a maternidade nas teias relacionais e de reciprocidades, mas também de conflitos, além da rede de apoio mútuo feminina, regada a dádivas e dívidas, por onde ―circulam as crianças‖, sobretudo pela instabilidade dos vínculos conjugais. De outro lado, as mulheres ultrapassam a condição materna e se posicionam como sujeitos de suas vidas, desenvolvendo capacidades de agência e processos de individualização, ao não desistirem de viver suas sexualidades, paixões e desejos, ao realizarem rupturas conjugais quando não satisfeitas, ao enfrentarem situações de violência conjugal com altivez, enfim, ao buscarem inúmeras estratégias de sobrevivência material e simbólica.
Abstract: This thesis aimed to analyze the meanings of maternity experiences of poor women from the outskirts of Fortaleza. Maternity was approached through three derivations: the notion of intersectionalities, due to the markers of class, gender and race of the interlocutors; biomedical and state discourses, permeated by biopolitical regulations that reverberate over female bodies; and the agencies stated and lived by women mothers in contexts of poverty. This research was based on the socio-anthropological field of contemporary feminist epistemologies, especially decolonial feminism. The methodology was based on qualitative research, having as reference the biographical approaches. In this study, the life narratives of the trajectories of the interviewed women were interpreted in various empirical fields, namely: the Morro da Vitória community, a public hospital in Fortaleza, and the homes of some interlocutors. Ethnographic field incursions were also made and direct and participant observation. The information obtained had a broad bibliographic and documentary reference as an analysis tool. Motherhood, beyond the biological aspects, appears as a plural experience and permeated by material, symbolic and normative elements, being contemplated by a series of displacements. The pregnancies for the research participants, with one exception, were not planned, even though they had a sexually active life. Most of the subjects in this thesis are women who have somehow transgressed gender norms and the ideal of modern Western motherhood. However, the changes in the feminine condition were not enough to deconstruct some gender moralities in their imaginary, since women themselves evaluated themselves as to the fulfillment of the obligations of ―raising‖ their children. Being a "mother of a family" marks her trajectories, which brings her social status in the popular classes. As for the biomedical and state speeches given at the hospital, it was noticed that disciplinary practices of control of the female body and medicalized birth still reverberate in a hegemonic way. The pregnancies presented in this study were of high risk. However, advances were observed in relation to more humanized multiprofessional practices in maternal and child health care. Childbirth, for the interviewees, is an important event in their lives, but without much planning. It was concluded that motherhood in the poor strata is full of contradictions. On the one hand, the typical moralities of the life of the poor given to the obligation to care for their children are hierarchical classifications of anchors of mothers in the favela, which includes motherhood in relational and reciprocal, but also conflict, and a network of mutual support. female, watered by gifts and debts, where "children circulate", and especially for the instability of marital bonds. On the other hand, women go beyond the maternal condition and position themselves as subjects of their lives, developing agency skills and individualization processes, by not giving up on living their sexualities, passions and desires, by performing marital disruptions when not satisfied, by facing situations of conjugal violence with haughtiness, finally, as they seek innumerable strategies of material and symbolic survival.
URI: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/49117
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