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Tipo: Dissertação
Título: Círculo de cultura em saúde: descobertas e mudanças entre as mulheres na família e na comunidade
Autor(es): Cavalcante, Monica Maria Vieira
Orientador: Varela, Zulene Maria de Vasconcelos
Palavras-chave: Saúde Pública;Saúde da Mulher;Enfermagem;Relações Interpessoais;Promoção da Saúde
Data do documento: 2001
Citação: CAVALCANTE, M. M. V. Círculo de cultura em saúde: descobertas e mudanças entre as mulheres na família e na comunidade. 2001. 89 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2001.
Resumo: O município de Fortaleza ocupa uma área de 336 Km . De acordo com o censo del991 sua população era de 1.768.673 habitantes. Estima-se hoje em 2.024.141, um crescimento de 14% aproximadamente. Dentro deste universo existem grupos populacionais que estão mais expostos a riscos diversos. Os chamados grupos de riscos, comunidades estas que receberam as primeiras 32 equipes do PSF (Programa Saúde da Família), em fevereiro de 1998. Atualmente Fortaleza possui 100 equipes, abrangendo 100.000 famílias em média. As equipes são formadas por 01 médico(a), 01 enfermeiro( a), 01 auxiliar de enfermagem e de 04 a 06 agentes de saúde que trabalham em regime de dedicação exclusiva e são responsáveis pela cobertura de uma área de aproximadamente 800 a 1000 famílias. As equipes atuam nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBASF), os atendimentos são baseados principalmente na promoção à saúde e prevenção das doenças, incluído-se entre a clientela atendida hipertensos, diabéticos, gestantes, mulheres em planejamento familiar e prevenção de câncer de colo uterino, tuberculose, hanseníase, desenvolvendo simultaneamente atividades de visita domiciliar, internação domiciliar e participação em grupos comunitários. Tem como objetivo principal, melhorar o estado de saúde da população, através do atendimento à família e à comunidade. Promove a família como núcleo básico da abordagem no atendimento à saúde da população e proporciona o estabelecimento de parcerias com o desenvolvimento de ações intersetoriais. (22, 23, 24, 25). Dentre as comunidades consideradas de risco estão os bairros de Antônio Bezerra e Quintino Cunha que foram divididos em micro-áreas, as quais foram subdivididas entre seis equipes, perfazendo um total de 6000 famílias cadastradas no Programa. As áreas divergem um pouco entre si, em relação ao nível sócio- econômico, mas a grande maioria é formada por famílias carentes. Algumas dessas comunidades beneficiadas pelo Programa são: Favela dos Plásticos, Favela do Bubú, Baixa dos Milagres, Favela do Viaduto, Buraco da Jia, Favela do Sossego, dentre outras. Faço parte da equipe III, que cobre uma população de aproximadamente 1250 famílias no bairro de Antônio Bezerra. Os limites dessa área são quatro ruas principais, uma delas uma rodovia federal que se transformou em um grande problema para moradores do bairro, pois ali é palco de um grande fluxo de carro. Os atropelamentos nessa avenida são constantes. Para que os moradores dessa comunidade tenham acesso a UBASF, é necessário atravessar essa barreira. As ruas são pavimentadas, mas saneamento inexiste, correndo por entre as casas à água suja vinda das moradias, tornando-se um importante veículo de transmissão de várias doenças, principalmente para as crianças que por ali brincam e desconhecem o perigo. A grande parte da população é formada por adultos jovens e por crianças, os idosos são minoria. O desemprego e o alcoolismo são detectados no momento das visitas domiciliares (realizadas no período diurno) feitas pela equipe da qual faço parte, existindo na própria comunidade certas ruas tidas corno pontos de encontro em que um grupo reúne-se diariamente no período da manhã para tomarem cachaça. A renda varia entre 0- 3 salários mínimos, estando a maior parte dos que possuem algum tipo de renda no mercado informal. A maioria dos que saem para trabalhar são homens. A mulher na maioria das vezes fica incumbida da criação dos filhos (que são em média de quatro por família) e dos afazeres domésticos não executando nenhum tipo de trabalho remunerado, principalmente devido ao fato de não terem com quem deixar os filhos. Atividades de lazer inexistem na área e nas proximidades. Pude perceber durante estes dois anos de convivência com a mesma, comunidade, que os conflitos, as angústias vivenciadas e sentimentos íntimos relatados pelas mulheres da comunidade assemelham-se e relacionam-se principalmente a problemas fruto de uma realidade desigual e de uma cultura de gênero que impõe um fardo às mulheres, identificando-as como seres humanos socialmente inferiores aos homens e a eles subordinados. Durante as consultas de enfermagem cobram-me respostas para assuntos pessoais e familiares delicados e complexos que constituem desafios, pois sei o quanto essas indagações influem no bem-estar das mesmas e muitas vezes em sua saúde mental. Questões sobre a sexualidade são as mais abordadas durante estas consultas. A culpa, talvez seja o sentimento mais aparente o que se pode perceber através de suas palavras e de seus semblantes: culpam-se por não poderem dar uma vida “digna” para os filhos. Culpam-se também pelas relações extraconjugais do marido, e ainda se culpam por não mais sentirem “vontade de deitar-se” com eles, que chegam com bafo de bebida e as “obrigam” a “fazerem” sob a rede “da meninada”, pois que a grande maioria habita em moradias de um único cômodo, dormindo todos, em um mesmo local. Neste ambiente, na maioria das vezes, a mulher tem que fazer sexo e “pastorar1 2” as crianças para ver se elas não estão “brechando” . Chamo mais esta culpa assumida pela mulher de “Culpa Noturna”. O que mais chamou minha atenção foi porque essas queixas não foram relatadas por uma única mulher, mas na maioria dos depoimentos. Através de uma pré-compreensão atingida após todo esse tempo de convivência, considero que essas mulheres possuem uma “consciência ingênua”, apropriando- me da expressão de Paulo Freire, caracterizada principalmente pela ilusão quanto às causas que originam o chamado “destino de mulher” ou as questões de gênero que determinam esse destino. 1 Observar,. 2 Olhar através de uma fenda ou abertura( sorrateiramente). Considerando esta realidade surgiu então a idéia de formar um grupo de mulheres adotando a estratégia do Círculo de Cultura como o método mais eficaz para trabalhar com este grupo. O objetivo foi testar o Círculo de Cultura e ainda: Promover a saúde mental do Grupo de mulheres, através da relação heurística (compreender) entre os membros; Expandir o campo perceptual das mulheres, em processo de grupo para a atualização de seu potencial humano; Favorecer a relação calorosa intragrupo e na família; Favorecer a relação solidária entre os participantes, e entre estes e suas famílias.
URI: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/47418
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